20.7.06

FCT = Fuga de Cérebros com Talento

Transcrevo o e-mail que recebi à pouco do SNESUP dando eco à ABIC (Associação de Bolseiros). No entanto eu nem sou bolseiro... e bem que precisava! ;)

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Governo português promove a fuga de cérebros de Portugal.

Ser bolseiro de investigação tornou-se hoje uma profissão altamente qualificada e a baixo custo. Durante anos, um bolseiro recebia uma bolsa para desenvolver investigação associada à obtenção de um grau académico. Era-se bolseiro por um período definido, geralmente curto, depois entrava-se no mercado de trabalho. Hoje, porque não se quer abrir vagas nos quadros das Universidades, Laboratórios do Estado e demais centros de investigação, porque o tecido empresarial nacional continua a não absorver trabalhadores científicos qualificados, ser bolseiro tornou-se uma profissão, um modo de vida precário que se tende a prolongar no tempo.

Isto representa a precarização do trabalho científico. Um bolseiro trabalha, mas não tem o estatuto jurídico de um trabalhador. Não tem direito a um regime de segurança social pleno ou férias. Um bolseiro não paga IRS. É como se fosse um trabalhador ilegal, sob a falsa capa do eterno estudante.


Os bolseiros são hoje responsáveis por uma parte substancial da investigação científica feita em Portugal, representando mais de um terço da força de trabalho científica. Muitos têm o mestrado, o doutoramento, 3-6 anos de pós-doutoramento, e continuam a não ser reconhecidos como aquilo que, de facto, são: trabalhadores. Recebem por vezes muito menos que colegas que integram o quadro das instituições, apesar de terem as mesmas ou mais habilitações. Com isto, consegue-se mão-de-obra qualificada, a baixíssimo custo.

Calcula-se que mais de 20% dos nossos quadros qualificados abandonam o País, para
procurarem no estrangeiro um emprego com salário digno, compatível com as suas
qualificações, para poderem antever um futuro, e não sentirem a instabilidade da vida de bolseiro. Exigimos que se cumpra a recomendação da Carta Europeia do Investigador: que sejam oferecidas condições dignas e atractivas aos investigadores de forma a criar uma Europa competitiva em Investigação e Desenvolvimento.

Manter a condição de bolseiro é destruir mão-de-obra altamente qualificada. É desperdiçar o esforço de investimento feito na formação avançada dos recursos humanos do país! A qualificação superior de um investigador doutorado representa um investimento público de mais de 50 mil euros. Não criar condições para reter estes quadros representa um prejuízo para o país.

As medidas recentemente anunciadas são claramente insuficientes e estão longe de poder vir a resolver este problema. Entretanto, anuncia-se igualmente um aumento da atribuição de mais bolsas...

É preciso dizer basta! Para investir em Ciência há que investir nos seus recursos humanos. Mais bolsas não é a solução. Exigimos a criação de emprego científico.

JUNTA-TE AO NOSSO PROTESTO. FUGA DE CÉREBROS NO AEROPORTO

DE LISBOA. 24 DE JULHO ÀS 18 HORAS. JUNTO ÀS PARTIDAS

NÃO FALTES.

5 comentários:

Anónimo disse...

Pois é eu infelizmente já estive no aeroporto mas no dia errado. O estatuto de bolseiro da FCT permite a adesão a um seguro de saúde mas para isso o bolseiro não pode passar recibos verdes. Ser bolseiro e fazer um doutoramento em Portugal implica muitas coisas mas principalmente ganhar muito pouco durante 48 meses (980 euros vezes 12 meses). E se se quiser pagar a segurança social para poder receber mais uns trocos são menos 147 Euros por mês. Com o dinheiro investido em livros a coisa torna-se complicada mas também porque se correm riscos... eu no meu caso estive seis meses sem receber bolsa a meio do doutoramento. Um pesadelo! Mas se me perguntarem se vale a pena eu só posso dizer que sim. Penso é que é para quem se pode dar ao luxo de ser bolseiro e isso é de facto horrível. Mesmo com bolsa é preciso ter de lado dinheiro para fazer um doutoramento em Portugal. Pelo menos é o meu conselho! Mas o que este estatuto nos dá não tem preço :-)!

Quanto à abertura de mais vagas é complicado de facto quando se não dão condições mas aliciantes aos que se acolhem... mas com falta de doutorados no país que fazer?? De qualquer forma parece progaganda política e não vontade de desenvolver a investigação... não sei... aguardo o dia em que a qualidade não seja sacrificada à quantidade mas para isso se calhar ainda temos que passar para a fase concorrencial...

xxx rato estudante

Bruno Júlio disse...

Acho que de facto ainda existem poucos doutorados em Portugal, e se for intenção do governo combater esses números, tudo bem!

Por outro lado também é certo que o mercado de trabalho português não absorve esta mão-de-obra altamente qualificada.

No entanto defendo que o governo deve ser o "motor" e não cruzar os braços à espera que os gestores de empresas puxem pelo país... o que é que eu quero dizer com isto!?...

Tenho esperança que dentro de pouco s anos as empresas portuguesas comecem a recrutar investigadores, e nessa altura já existirá um bom contingente de portugueses com experiência internacional e uma boa formação.

Até lá teremos forçosamente de passar por uma fase mais concorrencial entre doutorados, é uma evolução natural - digo eu.

Por outro lado devemos olhar também para o mercado de trabalho espanhol que está mais desenvolvido em termos de I&D nas empresas privadas, como uma hipótese.

Acho que as pessoas não podem ter a ilusão de um dia fazer carreira no seu país de origem, quando a Europa e o Mundo são cada vez mais "um só"!

Enfim! todas estas questões são muito sensíveis e cada um terá a sua experiência pessoal a acrescentar aos argumentos, da qual pode tirar conclusões. Uns com experiências mais positivas, outros menos!

O que interessa agora é debater estes temas entre os interessados, e este é um bom local! :)

Bruno

Bruno Júlio disse...

Notícia de hoje no Público:

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Bolseiros de Investigação Científica encenam "fuga de cérebros"
24.07.2006 - 09h42 PUBLICO.PT


A Associação dos Bolseiros de Investigação Científica promove hoje uma encenação de "fuga de cérebros" no Aeroporto de Lisboa, às 18h00. Esta acção tem como objectivo chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos jovens investigadores científicos, nomeadamente para as suas condições precárias de trabalho e para a ausência de férias.

A iniciativa vai consistir na encenação da partida de um grupo de bolseiros forçados a emigrar para prosseguirem as suas carreiras e é da responsabilidade da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica.

Em declarações à rádio TSF, o biólogo André Lévy explicou que o objectivo da acção é sensibilizar o Governo para a necessidade de reconhecer os bolseiros como trabalhadores de facto. André Lévy diz que “o bolseiro não é um trabalhador, segundo o estatuto, embora na prática efectue trabalho científico" e "muitas vezes os bolseiros sejam utilizados para colmatar as necessidades básicas das suas instituições" de acolhimento.

O bolseiro indicou que entre essas tarefas estão muitas vezes não só a investigação científica mas também, "para poderem oferecer os serviços que, por exemplo, laboratórios do Estado oferecem, serviços essenciais para o funcionamento do Estado, serviços públicos", "trabalho esse que é garantido à base de bolseiros".

Devido ao estatuto do bolseiro, "não estamos integrados num regime de segurança social que nos dê condições atractivas e dignas", denuncia. Além disso, queixa-se a associação, "o nosso montante de bolsas, por exemplo, também já não é actualizado há mais de três anos. Não temos direito a férias estabelecido pelo nosso estatuto. Não temos cuidados ou acesso a cuidados de saúde implementado.”

Pedro Custódio disse...

Eu também já por lá passei e por isso simpatizo com o descalabro da situação e ao ponto claro a que chegou.

No entanto, não acho que seja essa a razão de fundo que leva tantos e tantos portugueses a procurarem vida (académica e não só!) lá fora. Acho que é um conjunto de questões, começando pela qualidade de vida e capacidade de integração no mercado de trabalho, etc.

O nosso mercado é pequeno em muitos sentidos, e por isso não é, nem deve ser considerado anormal essa fuga, a fuga deve existir, o problema é que hoje é anormalmente alta, num momento em que o País podia aproveitar toda essa massa de gente cheia de vontade para mudar muita coisa.

Depois há outra questão que vale a pena lembrar, e quem por lá passa também sabe que é verdade. Há muito bom "investigador" que se mantém indefinidamente como bolseiro, por medo ou falta de vontade de mudar essa situação. Há caras que todos conhecemos, pelo tempo que lá estão, embora se forem a "espremer" o que eles fizeram durante esse tempo, o resultado fique muitas vezes àquem do que se esperaria, pelo tempo e dinheiros envolvidos. Estes sim, são também uma peça importante do puzzle, até porque o espaço e o dinheiro que custam, não deixa que outros embarquem nessa mesma jornada e quem sabe até mais proveitosa para todos.

Ser-se bolseiro é uma fase importante.. mas é preciso saber olhar mais adiante. O mercado é pequeno, a investigação e desenvolvimento em Portugal uma fraca realidade, pelo que quem procura num mar cheio de gente um lugar ao sol, é normal que se depare com problemas, mas afinal o mercado de trabalho não é assim tão diferente cá fora.

Eu acredito que há lugar para quem realmente quer fazer investigação, no entanto é preciso perceber que os lugares são limitados e se há 100 ou duzentos melhores que nós, o melhor será pois, virarmo-nos para outras águas.. lá fora ou cá dentro.

Anónimo disse...

Chamo a atenção para os estatutos do bolseiro de investigação da FCT:

http://www.fct.mctes.pt/pt/apoios/bolsas/estatutodobolseiro/#ANEXO

Sem querer fazer de advogado do diabo o bolseiro tem direito a 22 dias de férias não tem é direito a subsídio de férias o que apesar de tudo são coisas diferentes. Depois tem direito a regimes de protecção social como o seguro social voluntário. Concordo com a questão das bolsas não sofrerem aumentos mas também convém não esquecer que a função pública tb teve os ordenados congelados. Estas notícias são por vezes muito pouco rigorosas na análise que fazem destes assuntos. Penso que ninguém se lembrou de ir consultar o documento aprovado em 2004!!!