30.8.06

Sobre os espaços em rede

Esta a conclusão principal retirada do texto: Networked Place de Kazys Varnelis e Anne Friedberg:
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Os autores observam que os não-sítios de que Augé falava parecem um artefacto do passado, os indivíduos nas regiões desenvolvidas nunca estarão sós, excepto se por escolha própria. Será que o facto de estarem demasiado conectados será um problema ainda maior para nós do que a solidão?, questionam. Se as tecnologias de RFID, posicionamento geográfico e a computação ubíqua parecem promissores como desenvolvimentos futuros, ligar os indivíduos cada vez mais à rede que os rodeia irá desligá-los cada vez mais do espaço à sua volta. Mas, não devemos esquecer, que a rede também possui a sua própria fisicalidade, a sua própria presença material.

Com isto os autores terminam afirmando que o conceito de Sítio está muito longe de ser um conceito estável, mas antes um em profundo processo de transformação.

29.8.06

Deliberação Democrática Online

Merlyna Lim e Mark Kann disponibilizaram online um ensaio sobre a Deliberação Democrática nas redes sociais. O texto tem o título Democratic Deliberation and Mobilization on the Internet.

Interessou-me mais a primeira parte do texto em que os autores abordam o tema da Deliberação como base de legitimação da decisão política, e por conseguinte, da própria Democracia. Uma boa deliberação é a pedra de toque de uma democracia legítima. Um cidadão ao ter a noção que uma decisão política foi tomada em consciência, (mesmo que contra a sua opinião) confiará mais nos seus líderes políticos.

Os autores exploram a ideia da Internet como um meio Convivial de convergência, de baixo custo, de vasta disponibilidade e resistente ao controlo e à censura. Sendo ainda outra da suas vantagens o facto de facilitar a comunicação e partilha um-para-um (como já faziam o telefone e o telégrafo), de um-para-muitos (como a televisão e os jornais) e por fim de muitos-para-muitos.

O termo Convivial refere-se, segundo os autores, a um meio onde são possíveis interacções autónomas, criativas e interacções entre os indivíduos e os seus ambientes; em contraste com as respostas condicionadas desses indivíduos às exigências feitas por outros.

Deliberação Online
Sobre este tema os autores afirmam que este processo se iniciou em finais dos anos 90, quando alguns investigadores começaram a adaptar a democracia deliberativa à Internet.

A deliberação é um processo lento na Internet porque requer tempo para reflexão, análise de documentos, etc. Mas por outro lado a mesma Internet veio permitir que um indivíduo possa estar "presente" em várias deliberações que ocorrem simultaneamente. E a Internet resolve esse problema de 2 formas:
1ª - A natureza assíncrona da Internet torna possível uma discussão de muitos-para-muitos.
2ª - A Internet pode conter um número variado de fóruns a decorrer. Ninguém tem tempo para deliberar sobre assuntos variados ao mesmo tempo, mas outras pessoas podem fazê-lo por ele.

O objectivo da deliberação online é informar representantes eleitos, e aumentar a sua legitimidade como mediadores políticos. (Repare-se na enorme diferença no papel dos políticos que é aqui proposta, em que o conceito de REPRESENTANTE do povo é levada mais além, passando estes a ser meros mediadores da vontade dos eleitores que os elegeram.)

Por outro lado a democracia deliberativa inibe a própria Democracia. Os autores apontam Harry Cleaver como defensor desta ideia porque o tempo e energia que as pessoas colocam na deliberação poderia ser aplicado noutras tarefas mais produtivas de participação cívica. Por um lado a conversa deliberativa atinge poucos objectivos quando as elites políticas e económicas não dão atenção às necessidades dos cidadãos, por outro lado a história diz-nos que o activismo social e político tem mais probabilidade de sucesso na mudança das democracias.

Mobilização democrática
Cientistas sociais consideram a mobilização democrática de indivíduos como pertencendo à categoria dos movimentos sociais, definidos como uma aliança abrangente de pessoas ligadas entre si por um interesse comum em promover ou combater mudanças sociais.

Alguns académicos e activistas acreditam que as democracias estão a degenerar em estados tecnocráticos autoritários, à medida que se vão subjugando ao poder e interesses de mercados. Em suma as pessoas ficaram dominadas por estados tecnocratas e forças de mercado, e o seu papel principal resume-se ao de consumidores manipulados.

Os autores citam Alan Touraine, afirmando que o estado, o mercado e o domínio das comunicações e media estão gradualmente a diminuir a liberdade dos indivíduos. Enquanto o activismo se esforça pela inclusão, autonomia, e por fim a democracia, a mobilização por vezes foca-se em princípios menos democráticos uma vez que a sociedade civil não pode livrar-se de elementos menos civilizados.

Historicamente os activistas incorporaram muitas tecnologias nas suas mobilizações, incluindo jornais, radio, televisão, cinema, e outras tecnologias de comunicação. No início dos anos 90, estava na altura de abraçar a Internet. A última década testemunhou o crescimento de mobilizações democráticas online confrontando estados-nação e centros de poder globais através de novas formas de comunicação, criação de comunidades sociais e resistência.

As ferramentas de colaboração online possuem o potencial de aumentar a escala de esforços organizativos ao mesmo tempo mantendo os custos baixos. Com o e-mail é possível enviar milhões de anúncios, solicitações de doações, e pedidos de acção pelo preço de um selo de correios. Com e-mails ou sítios web é possível alcançar uma audiência de milhões quase de borla, comparando com anúncios de TV.

O sucesso de eventos de massas, como os protestos de Seattle, requerem o uso de vários media bem como o uso de tacticas de organização. A Intermodalidade entre a Internet e outras redes de media, como os telemóveis, bem como entre o ciberespaço e o espaço geográfico é necessária para suportar a disseminação de informação, bem como mobilizar e organizar acção.

Estruturas descentralizadas e distribuídas:
A Internet desafia as estruturas convencionais de organização de movimentos sociais. Ao invés de se apoiar em estruturas hierarquicas e centralizadas. A Internet pode ser utilizada para implementar estruturas descentralizadas e distribuídas. Mesmo as técnicas de disseminação d einformação baseadas em telefone e fax, requeriam estruturas hierarquicas ao contrário das mialing lists e aplicações P2P (peer-to-peer) que possibilitam aos activistas organizar muito rapidamente a coordenação logística e supervisão da organização.

O e-mail como ferramenta de disseminação de informação:
O uso do e-mail para a mobilização online motivando as pessoas tem sido muito utilizado construíndo relações de confiança e comunidades democráticas, mais do que apenas a disseminação de informação. Neste contexto o e-mail oferece uma forma simples e familiar de comunicação personalizada e directa com os potenciais activistas. Mas não só, também algumas ferramentas de angariação de fundos evoluiram do e-mail incluindo o Convio, eBase, GetActive, TheDataBank, NonProfit Matrix e Kintera.

A Cultura da remistura:
A emergência das redes digitais bem como ferramentas de authoring digital disseminaram o surgimento da cultura da remistura. A crescente facilidade na aquisição destas ferramentas e a facilidade em distribuir ficheiros online, aumentaram a produção da cultura da remistura e mash-up focada na política. No original, remix, começou por ser um termo utilizado na indústria musical para peças musicais reeditadas por outros autores adicionando-lhes novos elementos à música.
Críticos vêm estas produções como manifestações de uma cultura de jovens sem filiação política ou até da pós-modernidade. Mesmo quando a sua produção é explicitamente política pode não ser democrática ao mesmo tempo. No entanto estas produções amadoras demonstram que os indivíduos podem interessar-se activamente na esfera pública, eles não apenas consomem a informação política mas também expressam as suas ideias através da distribuição das suas peças. Estas peças podem não conter per si valores democráticos, mas tal como a Internet a cultura da remistura é convivial.

Conclusão:
Os autores começam por afirmar que devido ao facto de os fenómenos da Deliberação Democrática e Mobilização Democrática online serem recentes, ainda não é possível prever o grau de impacto real na democratização das sociedades tirando partindo da característica convivial da Internet:
- Primeiro porque a deliberação e a mobilização online são formas de participação democrática que possuem diferentes, e até mesmo conflituosos, propósitos. Se bem que a conversa democrática potencia sempre a democracia onde esta mais ou menos existe. No entanto devemos ter em linha de contaque a democracia deliberativa convida à estabilidade e a mobilização democrática promove a ruptura das elites estabelecidas, sendo assim provável que ambas choquem em certos aspectos.
- Segundo, a Internet irá sem dúvida alguma ampliar a extensão da democracia deliberativa bem como das mobilizações democráticas. Sejam eles um tipo de conversa democrática ou mesmo acção, é expectável que venhamos a encontrar formas híbridas de participação online e offline no futuro.
No passado assitimos a tentativas menos conseguidas de participação devido ao facto de: (1) as reuniões terem uma longa duração, e (2) o activismo requer um empenho a tempo inteiro. No entanto a grande vantagem da Internet é a de que esta abre possibilidade a formas de activismo e deliberação a tempo parcial.

“Internet Conviviality does not have much new to offer in the way of deliberation. Offline and online, the rules of rational discourse are pretty much the same. However, the first rumblings of an online participatory culture that invites amateur participation, promotes a sense of cultural agency, and fosters peer-to-peer networks – facilitated by affordable digital technology, networked tools, and social software – indicates that the Internet may become a more powerful gateway for people on the sidelines to become local, even global activists.”

Merlyma Lim e Mark Kann

Links de Agosto VIII

Pageviews are Obsolete

Meet the Future of Marketing: It Is Us


Social Networking: Why are Conversation and Collaboration Tools so Underused?

9 Random thoughts about Blogging

Technology lets ads get personal

25.8.06

Can German engineering fix Wikipedia?

No seguimento do post com o título "Novas Ditaduras" em que expus a ideia de Jaron Lanier face ao perigo de os artigos da Wikipedia poderem ser vandalizados por utlizadores anónimos, chegou aqui à minha "redacção"(ahahah!) este artigo na CNET News, sobre a comunidade alemã da Wikipedia que se prepara para introduzir um sistema administrado por um indivíduo que tem como função "moderar" as alterações efectuadas às entradas da Wikipedia.

23.8.06

Links de Agosto V

Four Big Ideas About Open Source

The Future of Social Networks


Machinima



"... Web 1.0 was all about connecting people. It was an interactive space, and I think Web 2.0 is of course a piece of jargon, nobody even knows what it means. If Web 2.0 for you is blogs and wikis, then that is people to people. But that was what the Web was supposed to be all along."

Allpeers Nova extensão do Firefox, que o transforma num software de partilha de ficheiros

22.8.06

Novas Ditaduras...

Jaron Lanier no seu ensaio publicado online com o título Digital Maoism: The Hazards of the New Online Collectivism, alerta para algo a que ele identifica como um perigo para a nossa sociedade, estabelecendo um paralelo com as ditaduras de esquerda e de direita (Maoismo ou Fascismo como o próprio indica no seu texto). Através do Wikipedia, Lanier afirma, que a Web 2.0 incorre no perigo de aniquilar o indivíduo em nome de uma suposta Inteligência Colectiva. As entradas do Wikipedia não são assinadas pelos autores bem como as suas constantes alterações. Ao contrário dos blogs nos quais os seus autores assinam os seus posts. Vimos também anteriormente a autora Danah Boyd, produzir um ponto de vista que vai de encontro ao que Lanier defende, ou seja, os bloggers como autores que se identificam tornaram-se mais credíveis perante uns Mass Media cada vez mais tendenciosos.

Lanier dá um exemplo: se quisermos saber opiniões válidas sobre uma série de TV, o MySpace é um local mais válido para buscar essa informação do que as enormes entradas da Wikipedia, isto porque normalmente no MySpace quem produz uma opinião também está a dar a cara e o nome pela mesma, tornando-se assim mais fácil contextualizar essa opinião, por exemplo, pela idade do autor, pela nacionalidade, etc.

Outro dos perigos identificados no ensaio, são os agregadores de conteúdos como o Google News ou outros mashups12 que se têm tornado mais populares que as opiniões produzidas por escritores de todo o mundo, uma vez que também estas aplicações se sobrepoem ao indivíduo, além disso torna-se mais fácil ser o agregador de conteúdos do colectivo onde não se correm riscos de emitir opiniões polémicas ou que possam ser dissonantes do mainstream.

Voltando ao tema da Inteligência Colectiva. Sobre este tema o autor afirma que a mesma pode ser tão estúpida quanto a mente de um indivíduo, veja-se por exemplo as histerias colectivas em volta do Y2K. Importa sim distinguir onde e em que situações a mente colectiva é mais inteligente que o indivíduo até porque, segundo Lanier, o cenário para que ambas tenham um mau desempenho é o mesmo. A era Pré-Internet oferece-nos bons exemplos de como o controlo de qualidade feito por um indivíduo pode melhorar a inteligência colectiva, e na era da Internet as comunidades sociais podem assumir esse papel de controlo, dizemos nós, uma vez que sempre existiram e continuarão a existir maus jornalistas, maus políticos, etc. A diferença é q a Web 2.0 oferece-nos do ponto de vista tecnológico, ferramentas mais poderosas que nunca para uma sociedade alerta e informada.

Jaron Lanier conclui que acima de tudo a riqueza da nossa cultura reside nas diferentes personalidades dos indivíduos e que esta riqueza nunca será substituída sequer pela Inteligência Artificial. Por outro lado a Mente Colectiva é lenta na tomada de decisões, característica essa que não se adapta com a governação de uma sociedade contemporânea, assim uma nova forma de política mais próxima dos indivíduos deve surgir.

“Empowering the collective does not empower individuals – just the reverse is true” (Jaron Lanier)

21.8.06

Partido Participativo nos EUA

Com tanta discussão à volta da participação dos cidadãos em decisões políticas, existe já uma proposta para fundar um partido que siga um funcionamento baseado nas ferramentas de participação social que a Web 2.0 nos trouxe.

O Participatory Democracy Party criou como ponto de partida um wiki. Esta poderá ser uma experiência interessante a seguir num país, os EUA, dominado por um sistema político bicéfalo onde o poder é alternado entre dois grandes partidos. Tendência essa que se tem verificado um pouco por todos os países ocidentais.

Links de Agosto IV

InSITeS

Games industry is 'failing women'

The Social Affordances of the Internet for Networked Individualism

The eParticipation Initiative

20.8.06

Links de Agosto III

"Top Spanish Web 2.0 Apps"

Ouça-se uma apresentação com o título: Participation Revolution por: Yochai Benkler, autor do livro "The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom"

5.8.06

Links: 05/08/2006

Searching for a mobile interface

"Nearly a quarter of phones returned for being faulty are working properly, a recent survey suggested. The problem is people just cannot figure out how to use them."

"Geoff Kendall believes the iPod is an example of a mobile experience that works."

2.8.06

Borat TV

Ora reparem na usabildade deste site!: Borat TV é lindo! ahahaha...

Não seguindo os "cânones sagrados" de Jakob Nielsen, eu penso até que este site "funciona", na sua capacidade de transmitir uma imagem "tosca", de um suposto jornalista Afegão "tosco", Borat... (excelente personagem de Ali G...)

Claro que seria necessário averiguar com mais profundidade as estatísticas do site, o seu impacto no público-alvo, etc... enfim, trabalho para o pessoal de Marketing! ;)

- Obragado pelo link Daniel ;)

Links: 02/08/2006

Participation: the Right way?

Cool Web 3.0 Apps


Web 2.0 is mass market, Web 3.0 is the transformation of Industries in the long tail.

How shooting digitally changes acting

O Dia da "Long Tail", chegou!

Vale a pena ver este video. Para quem ainda não se apercebeu do que é o "Long Tail", esta é uma boa forma de o fazer!... o poder está a mudar de mãos, dizem-nos eles! Mas será mesmo assim? estamos cá para ver, e para já a ideia agrada-me!